abril 13, 2008

Fala comigo doce como a chuva


''Chegou em casa decidida a pouco fazer. Pensou em ler livros, folhear revistas, ouvir boa música, desistiu. Quis apenas tomar o chá quentinho que fizera e comer bolachas de água e sal. Da beira da janela, observava a chuva que caía fortemente sobre os vidros.

Começou a rever ações, a julgar razões, a dar soluções, a brincar de Deus. Em pensamentos, quis ser constante, andou errante, era uma infante. Acabou com tudo, parou com o mundo, seguiu seu rumo; buscou a sorte, conquistou o Norte, encontrou a fé, continuou de pé, tornou-se mulher... Já não havia tempo... tudo era passado, tudo tinha mudado, o amor estava morrendo, a chuva caindo.

Desiludida, quisera ter paz, sossegar nunca mais, encontrar um amor, consolar-se na dor, inquietar as prisões, sentir emoções. Tudo era errado, não mais que pecado, todos mudaram, os homens mentiram; os caminhos em desconexos límpidos, os opostos gladiavam, a raiva era luxo, a saudade uma gafe, o tormento inconstante, a salvação distante, o Herói impotente. Reflexiva, estática ficara. Não havia mais desejos, ilusões, sonhos com os quais sonhar. A fé tinha chegado ao fim e a solução tornava-se, cada vez mais, irremediável. Lágrimas caíam..

As pressões a sufocam quanto mais seus sonhos eram verossímeis. Suas ações eram indignas as vontades e anseios de Deus. Tudo estava por um fio. Já não mais sentia sensações, não pensava mais em emoções; tudo era vaidade, a verdade uma saudade, as máscaras perduravam, a chuva passava, seu coração acelerava.

Nesse instante, seu músculo involuntário seguiu os caminhos da chuva que havia parado. Diante de Deus, pediu pela paz, ansiou por morais, conquistou a fé, descobriu o rancor, chorou pelos céus... Tentou animar-se, fazer sua parte, sentiu um desejo, lutou por um beijo, ganhou um clamor que a solidificou. A verdade era pura ao mesmo que imatura. A mentira, um universo de sensações várias de alucinação com crises de mau amor. E só então, ela descobrira que seu destino estava arranjado, só não havia avisado. As vibrações que sentira eram as gotas doces das chuvas transformadas em lágrimas diante da paisagem que os vidros cobriam em sua casa. Justamente ali, o amor sorriu e não mais a inquietou, pois recuperara sua crendisse Nele e isso afagava seu peito, que resplandeceu de flores de jasmin e exalavam o perfume da serenidade que somente a felicidade é capaz de cumprir. Valeu a pena docemente chover.''

PS.: este texto baseia-se em reflexões do clássico de mesmo nome, do autor americano Tennessee Williams. Em sua obra, o dramaturgo faz a síntese de grande parte do desespero existencial com que trata seus personagens. A crueldade maior da história é que ela fala da desilusão do amor, da solidão e da incapacidade do ser humano em ser feliz justamente na base da sociedade: a juventude.

Livro: Fala comigo doce como a chuva
Autor: Tennesse Williams

março 26, 2008

Arte Consciente (?)


O artista plástico Eduardo Srur pretende ''nos conscientizar'' em sua nova instalação urbana, PETS. Ao longo de 1,5 km da marginal Tietê, entre as pontes do Limão e da Casa Verde, vinte garrafas pets de 10m de comprimento por 3m de diâmetro, estão expostas como forma de manifesto contra a degradação ambiental da nossa cidade. ''Um dos objetivos é causar impacto e estranhamento em um número imenso de pessoas, para ver se isso dá algum retorno em termos de reflexão. O rio se tornou um cartão postal invertido da cidade'', afirma o curador paulistano.

Quem por lá passa fica curioso para entender o que aquelas gigantes garrafas querem realmente dizer. Alguns pensam que são enfeites para colorir um pouco mais a cinza São Paulo; outros se perguntam se é o novo comercial do guaraná (devidamente entendido, visto uma garrafa ser verde com tampinha vermelha - os outros modelos são laranja com tampa azul e vermelho com branco). Ninguém quase entende(u) o significado da mostra e muito menos se conscientiza(ou) sobre a questão ambiental.

O que deu errado, então? A resposta pode estar na raiz de nossa cultura e na falta de consciência do artista. Para alguém que tem pouca educação ou não entende muito de arte, como a maioria das pessoas que por lá transitam diariamente, nada significa garrafas de refrigerante as margens do rio, muito menos ato contra a poluição. Falta de maiores explicações sobre a mostra, no local em que ela acontece, dá margens a imaginação. Já Eduardo não teve sensibilidade suficiente para entender seu público alvo e sua mostra está fadada a ser um eterno ponto de interrogação, pois sempre nos lembraremos das garrafas gigantes e luminosas do rio Tietê, e não como manifesto contra a degradação ambiental.

Toda tentativa de alerta contra a poluição e os danos causados é válida. Porém, é preciso que a obra fale a mesma língua que a de seu público. Sem isso, ela ''apenas'' será uma manifestação distante de muitos e perceptível a poucos, mas valeu pela boa intenção e pelo colorido dado. A cidade ficou mais ''iluminada''.

PETS (visitas de barco à obra) Segunda a sexta-feira, das 8h30 às 17h30, e aos domingos, às 14h (público em geral). Agendamento com a ONG Navega SP - Tel. (11) 5094-4480 Grupos de 20 a 160 pessoas. Visita gratuita.

março 24, 2008

Apresentação

Curtos-Circuitos, seu blog de diversão e cultura. Neste espaço, pretendo deliciá-los com minhas peculiares manifestações sobre os mais variados assuntos do mundo do entretenimento. Sem pré-conceito algum, música, cinema, teatro, tv, rádio, mostras e exposições serão abordados de maneira diferente da qual estamos acostumados a receber.

Espero que gostem e se divirtam a cada postagem nova, fazendo deste lugar um passeio cultural, no mínimo, interessante. Bem-vindos!!!